O governo federal decidiu
que só anunciará aumento ou criação de impostos para reforçar a arrecadação
após a divulgação de novos cortes de gastos em sua própria máquina. A
expectativa é que as primeiras medidas saiam do papel no início da próxima
semana. A decisão atende a um pleito de influentes congressistas, como o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que insistem que o governo só
peça sacrifícios à população após “cortar na própria carne”.
Do lado das receitas, voltou
a crescer no governo a tese de que a melhor solução será a criação de um
tributo sobre movimentação financeira nos mesmos moldes da CPMF. A equipe
econômica avalia que essa seria a melhor saída para fechar o rombo de R$ 30,5
bilhões no Orçamento de 2016 e tentar atingir a meta de superávit primário
(economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 0,7% do PIB (Produto
Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos no país) no ano que vem. Em
relação aos cortes, os técnicos da área econômica afirmam que as ações
envolverão o enxugamento da máquina pública e também uma revisão de programas e
benefícios sociais.
No Ministério da Fazenda, há
estudos que mostram que, se o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez
fossem corrigidos até chegar a padrões internacionais, haveria uma economia
anual de R$ 24 bilhões. Esses dois itens respondem por 16% dos gastos da
Previdência Social. Já a reforma administrativa, que acabará com ministérios,
secretarias e cargos comissionados, terá efeito mais simbólico. A equipe
responsável pelos cortes se reunirá neste fim de semana. — O governo vai fazer
um gesto, com o corte de gastos de sua máquina, para abrir caminho para o
início das negociações com o Congresso e com a sociedade em busca de fontes de
receita — disse um auxiliar de Dilma.
FAZENDA JÁ FAZ SIMULAÇÕES
SOBRE CPMF - A criação de receitas é um assunto delicado nessas discussões. Um
ministro que participa dos estudos diz que há duas frentes possíveis. Uma é
obter uma arrecadação pulverizada por meio de diversos tributos, como Cide,
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI). Também poderia haver aumento do Imposto de Renda sobre
ganhos de capital. A outra — preferida pela área econômica — é a criação de um
tributo que resolva boa parte do rombo. Nesse cenário, surge a CPMF. Embora a
presidente Dilma Rousseff tenha recuado da ideia de propor essa medida ao
Congresso, por temer uma derrota, os técnicos dizem que a proposta “nunca saiu
do radar”. — O desejo continua, pois a CPMF seria tributação mais indolor para
a sociedade. Não onera um setor especificamente, tem alíquota pequena e dá a
maior arrecadação, além de ajudar na fiscalização — diz um integrante do
governo.
No Ministério da Fazenda,
circulam simulações sobre a nova CPMF. A ideia é que seja temporária — o prazo
de vigência pode variar de dois a quatro anos. A alíquota seria gradualmente
reduzida durante sua vigência. Outro aspecto delicado seria a divisão da
arrecadação com estados e municípios. É provável que a partilha com os
governadores tenha que ser maior do que o planejado inicialmente para que eles
ajudem a aprovar a proposta no Legislativo. Nesta sexta-feira, em Teresina, em
encontro com líderes dos movimentos sociais no evento Dialoga Brasil, Dilma
afirmou que o Brasil precisa repudiar os que querem sempre a catástrofe e o
desastre.
— Vivemos em uma democracia.
Muita gente considera o pior melhor. O pior é melhor para uma minoria. Temos
que repudiar aqueles que querem sempre a catástrofe, o desastre — afirmou a
presidente. — Vamos superar as dificuldades porque somos capazes. O Brasil tem
uma imensa força porque somos a sétima economia do mundo; segundo, porque temos
condições, temos uma estrutura forte, uma indústria forte, e, nos últimos 13
anos, nós mudamos bastante o Brasil. Em relação à recriação da CPMF, a
presidente teme enviar a medida por conta própria e vê-la derrotada no Congresso,
ainda mais após o desgaste provocado com a desistência de encaminhá-la com o
Orçamento, após a repercussão negativa que a medida tomou. Por isso, a solução
seria convencer os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, ou do Senado, Renan
Calheiros, ambos do PMDB, a encampar a ideia.
LEVY NÃO CONTOU A DILMA
SOBRE REBAIXAMENTO - O anúncio de cortes e de medidas de recuperação de
receitas se tornou mais urgente devido ao rebaixamento do Brasil e à perda do
grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard &
Poor’s (S&P). Na última quarta-feira, dia do anúncio da S&P, o ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, foi avisado à tarde de que a agência rebaixaria o
país. Porém, ele só comunicou Dilma três horas depois. Levy temia que a
informação vazasse antes de o mercado fechar. Também queria tempo para preparar
o discurso do governo.
A ação de Levy foi reprovada por interlocutores do
Planalto, pois deixou Dilma e o ministro da Secretaria de Comunicação Social
(Secom), Edinho Silva, “vendidos” quando a imprensa passou a repercutir o
rebaixamento. No Congresso, o líder do governo na Câmara, José Guimarães
(PT-CE), peregrina pelos gabinetes dos demais deputados para convencê-los a
ressuscitar o imposto. Ele conta com a ajuda dos prefeitos para pressionar a Câmara.
O petista disse a aliados que tem recebido representantes de municípios com
pedidos para que o governo apresente a proposta, com parcela maior destinada
aos entes federativos. O esboço inicial fixava a alíquota em 0,38% e destinava
0,01 ponto percentual a municípios e 0,02 a estados. Guimarães disse a
prefeitos que o governo está disposto a alterar essa divisão. No Senado, o
líder do governo, Delcídio Amaral (PT-MS), disse que a maior preocupação do
governo é escolher tributos que não tenham impacto expressivo sobre a inflação.
Ele admitiu a volta da CPMF: — Tem muita gente que não pode nem ouvir falar em
CPMF, mas tem outro tanto apaixonada pela ideia — afirmou Delcídio. (O Globo)
0 comentários:
Postar um comentário
O Blog JC Radialista: Não se responsabiliza por comentários de leitores ou terceiros que venha comentar determinado conteúdo apresentado neste espaço...