Não é só a presidente Dilma
Rousseff (PT) que está esvaziando as gavetas do gabinete e recolhendo "as
tralhas" que ganhou durante a sua passagem no Palácio do Planalto para
serem transferidas ao Alvorada - o local que Dilma escolheu para se manter na
"resistência" pelos 180 dias que ficar afastada do cargo, caso o
plenário do Senado acate, nesta quarta-feira, a continuidade do processo do seu
impeachment. A eventual assunção do vice Michel Temer (PMDB) à Presidência vai
desempregar uma legião de aliados que, nos últimos 13 anos de governo petista,
tem ocupado postos no Palácio do Planalto, na Esplanada dos Ministério e em
estatais. Na Bahia, o desembarque atingirá em cheio os ministros Jaques Wagner,
chefe do gabinete da Presidência da República, e Juca Ferreira (PT), da
Cultura, e outros 13 representantes do PT, PCdoB, PDT, PP hoje acomodados na
máquina pública. Segundo o site Contas Abertas, o Executivo Federal abriga
cerca de 100 mil cargos, funções de confiança e gratificações. Desses, mais de
20 mil são de livre nomeação, ou seja, a autoridade pode indicar pessoas de
fora do serviço público. Destituídos Dos que retornam sem emprego estão oito
petistas: o ex-secretário de Comunicação de Wagner, Robinson Almeida, que é
secretário executivo do Ministério do Trabalho e Previdência Social; o
ex-reitor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Paulo Gabriel
Soledade Nacif, hoje titular da Secretaria de Educação Continuada (Secadi) do
Ministério da Educação (MEC), e o cineasta Pola Ribeiro, ex-diretor do
Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), que deixará a Secretaria
do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura. Nesse grupo também figuram Éden
Valadares, ligado a Wagner e atual assessor especial da Casa Civil da
Presidência da República. Já Eva Chiavon, que era secretária da Casa Civil no
governo Wagner e assumiu a chefia da Casa Civil da Presidência em março, com o
impedimento de Lula tomar posse no cargo, também deve retornar para a Bahia. Os
outros petistas são: Reginaldo Barros, ex-pró reitor da URFB com cargo no
ministério da Reparação; Luiz Gugé, superintendente regional do Incra na Bahia;
Wellington Rezende, delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário no
estado, e José Maria Dutra, superintendente da Delegacia Regional do Trabalho.
Também voltam para casa os comunistas Ney Campello e Vicente Neto. Campello,
que foi secretário de Educação de Salvador e titular da secretaria estadual
para Assuntos da Copa 2014, deixará uma das vice-presidências dos Correios.
Vicente Neto, que presidiu a Embratur e ocupou cargo no Ministério dos
Esportes, perderá a Superintendência Regional da Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) na Bahia. Do PDT ficará desalojada a ex-vereadora Andrea Mendonça,
hoje ocupando uma vice-presidência dos Correios. Ela já foi secretária de
Desenvolvimento, Trabalho e Emprego na administração do prefeito de Salvador,
ACM Neto (DEM), e de Ciência e Tecnologia no governo Jaques Wagner. A medida
atingirá, ainda, Prudente José de Morais (PP), ex-prefeito de Santa Maria da
Vitória, que está à frente da Superintendência da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento
dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), na regional de Bom Jesus da Lapa.
Sem acordo Apesar de o afastamento de Dilma atingir petistas ilustres e outros
agentes públicos, não há, por ora, nenhum movimento no sentido de serem
reaproveitados no governo do estado. Nem mesmo o ministro Jaques Wagner - cujo
nome foi incluído no principal inquérito da Operação Lava Jato e uma secretaria
lhe daria direito a foro privilegiado - tem emprego assegurado. Indagado sobre
o assunto, o governador Rui Costa (PT) afirmou: "Ficaria muito honrado com
a contribuição que ele (Wagner) ou outros técnicos possam dar, mas reitero que
há nenhuma conversa. Até aqui, isso não está no horizonte meu e dele". À
coluna Tempo Presente, de A TARDE, o ministro negou a pretensão de ocupar uma
secretaria de estado, caso o Senado acate a continuidade do processo de
impeachment da presidente. Wagner disse que ficará morando na Bahia e, daqui,
ajudando Dilma a montar a sua defesa. O ministro Juca Ferreira, que na
sexta-feira participou, em Salvador, do lançamento do programa Teia Nacional
dos Pontos de Cultura 2016 e da entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida
em Camaçari, esclareceu que seu foco ainda é a cultura. "Continuarei
trabalhando enquanto o governo Dilma estiver funcionando plenamente". Um
dos pré-candidatos do PT à prefeitura de Salvador em outubro, Juca diz que só
está aguardando a decisão do partido para "mergulhar" na campanha. O
presidente estadual do PCdoB, deputado federal Daniel Almeida, rechaçou que o
governador tenha "obrigação" de acolher aliados desabrigados no
governo federal. "Esta questão não está em pauta. Ney Campello e Vicente
Neto são excelentes quadros técnicos, mas quem está em cargo de confiança sabe
que, assim como assumiu, pode sair a qualquer momento". Já Andréa
Mendonça, de acordo com o presidente do PDT na Bahia, deputado federal Félix
Mendonça Jr., cumprirá a "quarentena" (seis meses após exoneração),
para só depois avaliar possíveis atividades.
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