Uma planta do cerrado pode
trazer esperança para portadores de uma doença de pele: o vitiligo.
O vitiligo atinge cerca de
1% da população mundial. Pelo menos, 70 milhões de pessoas são portadoras da
doença.
Fabíola Moreira é uma delas.
Tem no corpo as manchas brancas que caracterizam o vitiligo e elas ficam bem
mais evidentes quando o médico Celso Lopes apaga a luz do consultório e acende
a luz negra para iluminar o rosto de Fabíola.
Há oito anos, ela vem
fazendo tratamentos para conter o avanço da doença, que é incurável. Se não
tratada, as manchas podem se espalhar.
O dermatologista atende
apenas doentes de vitiligo e explica que a doença impede que as células
chamadas melanócitos produzam a melanina, a substância que dá a cor à pele.
Existem vários medicamentos
e tratamentos usados para conter o vitiligo e dos campos de cerrado pode vir
mais um. Em Caldazinha, Goiás, Miguel das Raízes percorre a mata de olho em
cada planta.
Com a arte dos antepassados,
ele vai reconhecendo as plantas medicinais do cerrado, mas a planta que busca
hoje fica em campo mais aberto. A mama cadela é nativa do cerrado e seu nome
científico é brosimum gaudichaudii.
Ela chega a virar uma árvore
de sete metros de altura, o nome popular, dizem, vem de seus frutos que, quando
maduros, ficam alaranjados e soltam um leite, parecendo uma teta de cadela.
O conhecimento popular foi
parar em Goiânia, no laboratório da Faculdade de Farmácia da Universidade
Federal de Goiás. Há quatro anos são estudados os princípios ativos contidos na
raiz da mama cadela.
O farmacêutico Edemilson
Cardoso da Conceição coordenou o projeto. O primeiro passo foi retirar o
extrato da planta, a partir daí foram desenvolvidos alguns tipos de comprimidos
e o remédio na forma de creme e gel.
O trabalho com a mama cadela
conta com a ajuda da farmacêutica Mariana Cristina de Morais. Quando entrou
para o projeto, ela não sabia qual seria a planta estudada, nem o seu uso. A
coincidência é que Mariana é portadora de vitiligo desde os três anos de idade.
Uma vez comprovada a
eficácia destes remédios, a demanda pela mama cadela, claro, vai aumentar. É aí
que entra o trabalho dos agrônomos. João Carlos Mohn Nogueira e Vítor Cardoso
trabalham na Emater nos testes para o plantio comercial da mama cadela. Até
agora ela só é obtida através do extrativismo.
Para que os medicamentos à
base de mama cadela cheguem às farmácias, ainda deve demorar alguns anos. E
como ainda não existem estudos, há riscos no uso da planta. O médico
especialista, que já ouviu falar dos efeitos da mama cadela, alerta. “Se a
pessoa ingerir esse produto e se expor ao sol, pode haver risco de queimadura.
O segundo ponto é que a substância pode ser tóxica para o fígado, dependendo da
dose que se vai usar, por isso, a importância dos ensaios clínicos que vão ser
realizados dentro da universidade”, explica Celso Lopes.
Enquanto isso, o cerrado vai
mostrando sua riqueza, suas novas possibilidades de uso que parecem infinitas.
Preservar as plantas e o conhecimento popular é muito importante. O saber que
também está ameaçado desaparecer.
A Universidade Federal de
Goiás espera agora por um laboratório farmacêutico interessado em fazer uma
parceria. O próximo passo seria testar os produtos à base de mama cadela em
pacientes com vitiligo.
(Globo Rural)
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