Vinte e quatro horas depois
de ver rejeitada a redução da maioridade penal para crimes hediondos e graves,
o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conseguiu aprovar uma Proposta
de Emenda à Constituição (PEC) mais branda costurada por ele com seus aliados.
Após uma manobra apelidada
pelos deputados governistas de "pedalada regimental" e mais de cinco
horas de discussão sem manifestantes, mas com direito a dedos em riste e
medidas procrastinatórias por parte dos partidos da base do governo, os parlamentares
aprovaram por 323 votos a favor, 155 contra, duas abstenções e quatro
obstruções a proposta que determina que jovens com mais de 16 e menos de 18
anos sejam punidos como adultos quando praticarem crimes hediondos, homicídio
doloso (com intenção de matar) e lesão corporal seguida de morte. O texto
também determina que os criminosos desta faixa etária cumprirão pena em
unidades específicas que devem ser construídas por União e Estados. Cunha
articulou a solução com seus aliados ainda na madrugada de ontem.
Líderes do PSD, do PHS e do
PSC apresentaram a emenda que excluía dos crimes passíveis de redução da
maioridade tráfico, roubo com causa de aumento de pena, terrorismo e lesão
corporal grave, como previa o texto rejeitado ontem por ter atingido apenas 303
votos. Por se tratar de uma PEC, eram necessários 308 votos. Deputados
governistas acusaram Cunha de golpe e disseram que irão recorrer ao Supremo
Tribunal Federal (STF). "Não imagine que com atitude ditatorial vai
intimidar quem quer que seja. Com atitude ditatorial o senhor não vai fazer com
que seus interesses prevaleçam. O Parlamento brasileiro não é a casa de vossa
excelência", esbravejou o deputado Glauber Braga (PSB-RJ).
Cunha reagiu: "Não se dê o direito de
desrespeitar o presidente da Casa", afirmou. "Quem não concorda com a
decisão, recorra à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) ou ao STF".
Para os governistas, Cunha armou um "golpe regimental" por não ter se
conformado com a derrota da medida que defende. Os deputados argumentam que
esta emenda aglutinativa não tem fundamentação em propostas apresentadas
durante o período de discussão da sessão de ontem e, portanto, não poderia ser
votada. "Ele não aceita derrota. Esta aglutinativa não tem suporte de
conteúdo", afirmou a líder do PC do B, Jandira Feghali (RJ). "Vamos
lutar para evitar um golpe regimental", disse a deputada antes da votação.
A Tarde
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