Astrid de la Rosa, que sofre danos causados pela migração do gel
para a base das costas e o quadril, decidiu criar em 2011 a Fundação Não aos
Biopolímeros, que registra pelo menos 15 mortos por transtornos relacionados
com este silicone.
Atualmente, tem 40 mil casos em sua base de dados, um número
crescente apesar de, em novembro de 2012, o governo ter proibido o uso de
substâncias de preenchimento, como os biopolímeros, com fins estéticos.
O governo iniciou uma ofensiva contra centros estéticos que
continuam aplicando as substâncias. A Justiça processou alguns esteticistas e
médicos, enquanto outros casos são investigados.
"Há inclusive casos recentes de meninas a quem os pais
deram de presente a injeção de biopolímeros em glúteos e seios aos 15 anos, e
agora se arrependem", conta De la Rosa. "São injetados tanto em
salões de beleza como por cirurgiões plásticos", prossegue.
Omar Guerrero, de 35 anos, professor em uma academia de San
Cristóbal, no Estado de Táchira (oeste), deixou que um enfermeiro lhe aplicasse
a substância nos peitorais para exibir uma musculatura maior.
Por telefone, ele conta à AFP que está prostrado em uma cama há
dois anos, quando o gel migrou para os músculos intercostais, limitando o
movimento de sua caixa torácica e, com isso, a respiração.
"Não posso fazer exercícios, não posso correr, estou morto
em vida", lamenta Guerrero, contando que pela aparência de seu peitoral
aumentado, é discriminado nos hospitais "como se tivesse HIV", vírus
causador da Aids.
O jovem recorreu ao consultório de um dos dois médicos que estão
retirando a substância do corpo das pessoas: um no Estado de Zulia (oeste) e
outro em Caracas. Lá falaram a respeito do risco de morrer após uma cirurgia.
"Não sei mais a quem pedir por um milagre. Isto é um inferno",
afirma.
"Uma doença incurável"
O consultório do cirurgião plástico Daniel Slobodianik, no leste
de Caracas, está lotado de pacientes. Dos nove casos que tem agendados para
atender esta tarde, sete são de mulheres com biopolímeros implantados, tanto da
capital como do interior do país, entre elas Mercedes.
"No total, devo ter atendido 400 pacientes desde
2011", conta o especialista à AFP.
Na sala, entre outras, estão uma mulher de 60 anos, quase imóvel
devido à dor causada pela inflamação provocada pelos biopolímeros; duas primas
que injetaram o produto juntas e, embora não sintam dores, estão alarmadas com
as notícias; e uma mulher que quer engravidar e teme pelas consequências para
seu bebê.
Slobodianik é um dos médicos que retiram a substância com uma
cirurgia - ao custo 6.000 dólares - ainda considerada "experimental"
pela Sociedade Venezuelana de Cirurgia Plástica (SVCP), pois nem sempre garante
melhora ou recuperação absoluta.
"A única forma de justificar a intervenção é quando o
material tenta sair do corpo", afirma Jesús Pereira, presidente da SVCP.
"É uma situação especial que pode gerar septicemia (infecção generalizada)
e, com isso, a morte", continua.
Na SVCP, preferem que as mulheres com biopolímeros façam
tratamentos com esteroides, que Pereira afirma que podem melhorar entre 48% e
62% a situação do paciente.
No entanto, Slobodianik diz já ter operado 50 mulheres e três ou
quatro homens, só quando manifestam sintomas como dores ou ardor, mudanças de
coloração na área e alergias na pele.
"O biopolímero não pode ser totalmente retirado, sempre
fica um vestígio da substância com o qual o organismo vai lutar (...) É uma
doença imunológica crônica (...) que 100% das pacientes que têm biopolímeros -
todas - vão sofrer. É uma doença incurável", lamenta Slobodianik. (ATarde)
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